quarta-feira, 31 de março de 2010
Boa Páscoa !!!!
A todos que passarem por aqui, aos familiares e especialemente aos meus pais, meus irmãos e a Gigi - Desejo saúde, felicidades, alegria, equilíbrio, harmonia e que consigam ir além das etapas ordinárias e descubram resultados extraordinários.
Que continuem tentando alcançar suas estrelas. Que realizem seus sonhos.
Que reconheçam em cada desafio a oportunidade, e sejam abençoados com o conhecimento de que todos tem a habilidade para fazer cada dia especial.
Que tenham bastante riqueza para atender suas necessidades, e sempre lembrem que o tesouro real da vida é o amor.
Agradeço a todos o carinho e agradeço por todas as maneiras que somos semelhantes e todas as maneiras que somos diferentes.
Agradeço a Deus, do fundo do coração, com um sorriso interno que eu desejaria que todos pudessem ver... A Ressurreição do Mundo.
Pela lei fundamental da natureza, todas as coisas se renovam constantemente, cumprem um ciclo e se renovam.
Deus deu-nos as estações - cada uma com suas próprias belezas e razão, cada uma significando uma benção, uma alegria, e o sentimento do amor.
Deus deu-nos sonhos - cada um com seu próprio segredo, cada um emitido para dar-nos sentimentos de inspiração, esperança, e tranqüilidade.
Deus deu-nos a luz do sol, o arco-íris e a chuva, a beleza e a liberdade da natureza para ensinar-nos a sabedoria.
Deus deu-nos milagres em nossos corações e vidas, coisas pequenas que acontecem no dia a dia, para nos lembrar que estamos vivos.
Deus deu-nos a habilidade de enfrentar cada novo dia com coragem, sabedoria, e um sorriso de saber.
Saber que seja o que tivermos que enfrentar, é mais fácil com Deus habitando em nossos corações.
Sobretudo, Deus deu-nos FAMÍLIA para ensinar-nos sobre o amor e para guiar-- nos através deste mundo, e Ele está sempre disponível para ajudar-nos para uma compreensão maior e compartilhar e dar mais amor.
Feliz Páscoa!
domingo, 28 de março de 2010
Ensaio para a velhice
Estou vendo o tempo passar e não sei o que isso quer dizer.
Vejo o contraste da virilidade presente em meu avô nos retratos antigos (e na minha memória)com os cabelos grisalhos e um andar devagar da realidade que se põe a minha frente.
Quando adolescente, prometi para mim mesma que, mesmo na inevitável ruptura com a idade tenra, conservaria em mim a vitalidade pura e sincera das crianças, unida a insaciável sede de viver pelas coisas boas e simples, sempre.
Hoje, aos 33, me afundei na ilusão de que estava perdendo o controle da situação. “A Crise” veio diante do espelho, que me insultava com sua franqueza ao expor que nada é eterno, e que não somos jovens e saudáveis a vida inteira. Os cabelos brancos aparecerem, a fraqueza física também, as dores musculares, os tremores .. e tantas outras coisas....
Essência? sabedoria? experiência? O que nos faz maduros? Os anos que se passam? A seriedade para o ato de trabalhar/viver/trabalhar? Esquecer a vida, esquecer o passado.
Não quero chegar ao fim da vida com tristeza nos olhos, mas também não quero decepcionar aqueles que depositam em mim a esperança de que um dia 'crescerei'.
Fiz minha escolha, num pacote completo com todos os erros e acertos, toda a dor e prazer, toda facilidade e dificuldade. Nem pior nem melhor, apenas um caminho.
sábado, 27 de março de 2010
quinta-feira, 25 de março de 2010
quarta-feira, 24 de março de 2010
Amanhã ....
Da mais louca alegria
Que se possa imaginar
Amanhã, redobrada a força
Pra cima que não cessa
Há de vingar
Amanhã, mais nenhum mistério
Acima do ilusório
O astro rei vai brilhar
Amanhã a luminosidade
Alheia a qualquer vontade
Há de imperar, há de imperar
Amanhã está toda a esperança
Por menor que pareça
O que existe é pra festejar
Amanhã, apesar de hoje
Ser a estrada que surge
Pra se trilhar
Amanhã, mesmo que uns não queiram
Será de outros que esperam
Ver o dia raiar
Amanhã ódios aplacados
Temores abrandados
Será pleno, será pleno
sexta-feira, 19 de março de 2010
Drão
Drão!
O amor da gente
É como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela estrada escura...
Drão!
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Cama de tatame
Pela vida afora
Drão!
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão
Drão!
segunda-feira, 15 de março de 2010
Boa semana a todos
NÃO SEI...
(Cora Coralina)
Se a vida é curta ou longa demais pra nós
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido
Se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais
Mas que seja intensa, verdadeira, pura...
Enquanto durar
E é o que desejo para todos nós...
Despertar esse desejo de conhecimento, de crescimento, de melhoria de vida, de harmonia!
quinta-feira, 11 de março de 2010
Essência
"Hoje pensei sério: se me perguntassem o que mais desejo na vida, não saberia responder. Quero tudo. Mas esse "tudo" é tão grande, tão vago, que me sinto estonteado. É preciso ir limitando meu sonho, apagando as linhas supérfluas, corrigindo as arestas, até restar somente o centro, o âmago, a essência. Mas qual será esse centro, meu Deus, que não encontro?"
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segunda-feira, 8 de março de 2010
DIA DA MULHER
Hoje é dia da mulher, ah tá, muito bom... Viva. O que é isso um consolo? Ok. Obrigada...
O mundo resistiu e ainda não se emendou de tudo que nos impediu de fazer ao longo dos tempos. Mulheres não podiam exprimir ideias (podiam ser perigosos os pensamentos de uma mulher), mulheres não votavam, mulheres não podiam ir em busca do sustento, mulheres não questionavam, mulheres já foram queimadas como bruxas, consideradas impuras, espancadas, usadas como objeto e mero deposito de esperma, máquina de gerar filhos. Logo nós que descobrimos a agricultura! Quando os homens caçavam e nós não podíamos sair por causa das gestações podíamos observar melhor o funcionamento da natureza.
Mas em que verbo estou falando? Passado ou presente? As coisas se confundem. Realmente me perco entre um presente ainda incerto e um passado obscuro.
As mulheres ainda ganham menos que os homens, ainda são apredejadas em alguns países, condenadas a serem sombras dos maridos. Como aceitar que mulheres ainda sejam mutiladas para não sentirem prazer ou serem abusadas sexualmente, muitas vezes dentro de suas própria casas, por parentes que deviam proteger? Como o caso da menina estrupada pelo padrasto, engravidou de gêmeos, abortou e agora está excomungada pela igreja, a mesma que queimavam as bruxas ( mulheres sábias que sabiam os segredos das ervas e curas). Sim ela foi excomungada uma criança de nove anos foi excomungada por ter sido estuprada e ter abortado o fruto desse estupro. Sendo que ela nem tem o direito de escolha. A células que se desenvolviam na barriga eram mais importantes que a criança. O pai não foi escumungada pela igreja, já que estrupar é pecado menor que matar células.
FELIZ DIA DAS MULHERES !!!!!
http://deaeomundo.blogspot.com/2010/03/ola-todos-e-todas-bem-vindos-e-bem.html
DIA INTERNACIONAL DA MULHER !!!
O mundo é feito por diversos tipos de mulheres:
WE, ALÊ, LENE,NARA, GABI, CLARINHA
Mulheres que curam com a força do seu amor...
TIA GATINHA, TIA CARLA, TIA LIA,
TIA DORA, TIA JUSSARA
Mulheres que escrevem o que a gente sente...
Mulheres maravilhosas...
NATHY, TRÍCIA,FERNANDA, ÉRICA, GABI, DANDAN,
CARLA, JULIANA,
PRETA
CRIS - Docinho
SIDANIA, KELLY
ALINE,
Mulheres batalhadoras...Mulheres talentosas.
BRENDA, FERNANDA, GIOVANA, VALENTINA,
E mulheres que amam, são amadas, choram, sofrem, aguentam, e até mesmo todas aquelas que não conheço, as blogueiras.
Mulheres guerreiras, Mulheres que eu admiro!
Mulheres que merecem o meu sincero abraço, minha sincera amizade!
8 de Março dia Internacional da Mulher.
Recebam todo o meu carinho, esta singela homenagem, e este buquê de flores virtual.
Sintam-se todas admiradas, abraçadas e beijadas por mim.
quinta-feira, 4 de março de 2010
Meu Blog?
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Um espelho;
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Uma check-list;
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Um desabafo;
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Uma ferramenta na construção da minha auto estima;
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Um exercício da escrita;
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Um local onde sou uma anônima num veículo que me permite viver como "mais uma na multidão";
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O retrato distorcido do meu lado exibicionista;
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Uma tentativa de fazer diferente;
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Uma gaveta destrancada que contém fragmentos de mim mesma;
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Um casulo;
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Um local para aprender mais sobre quem eu sou;
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Um espaço de insights e expurgos.
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Relatos da razão, da emoção e da imaginação;
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Um remexer nas vísceras para encontrar a saúde;
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Minha solidão bem acompanhada.
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Um grito;
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Uma busca;
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Um encontro;
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Um sonho;
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Teoria + Prática;
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Sorriso e Pranto;
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Rir de si mesmo;
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Mergulhar para emergir!
http://devaneiosemetamorfoses.blogspot.com/2009/08/meu-blog.html
Leiam !!!
Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam,alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos 'personal dance', incrível.E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida?
Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinhos sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão 'apenas' dormirem abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.
Tornamo-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a 'sentir', só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós. Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número de comunidades como: 'Quero um amor pra vida toda!', 'Eu sou pra casar!' até a desesperançada 'Nasci pra ser sozinho!'
Unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis. Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega.
Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, 'pague mico', saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois.
Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra que pensar nele?
Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: 'vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois,vai querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida'.
Antes idiota que infeliz!
(Arnaldo Jabor)
terça-feira, 2 de março de 2010
Águas de março
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um caco de vidro, é a vida, é o sol
é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
é peroba do campo, é o nó da madeira
caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
é o mistério profundo
é o queira ou não queira
é o vento ventando, é o fim da ladeira
é a viga, é o vão, festa da cumeeira
é a chuva chovendo, é conversa ribeira
das águas de março, é o fim da canseira
é o pé, é o chão, é a marcha estradeira
passarinho na mão, pedra de atiradeira
Uma ave no céu, uma ave no chão
é um regato, é uma fonte
é um pedaço de pão
é o fundo do poço, é o fim do caminho
no rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego
é uma ponta, é um ponto
é um pingo pingando
é uma conta, é um conto
é um peixe, é um gesto
é uma prata brilhando
é a luz da manhã, é o tijolo chegando
é a lenha, é o dia, é o fim da picada
é a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
é o projeto da casa, é o corpo na cama
é o carro enguiçado, é a lama, é a lama
é um passo, é uma ponte
é um sapo, é uma rã
é um resto de mato, na luz da manhã
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é uma cobra, é um pau, é João, é José
é um espinho na mão, é um corte no pé
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um passo, é uma ponte
é um sapo, é uma rã
é um belo horizonte, é uma febre terçã
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
Pau, pedra, fim do caminho
resto de toco, pouco sozinho
Pau, pedra, fim do caminho,
resto de toco, pouco sozinho
Tom Jobim
Coleção
Disco de Bolso:
O tom de Antonio Carlos Jobim e o tal de João Bosco
(1972)
Chega dezembro e com ele vêm o natal, o reveillon, as férias, depois o carnaval... Na verdade, o ano seguinte só se inicia mesmo depois de encerradas as folias populares. Nada melhor que uma boa enxurrada para varrer as cinzas do ano anterior e então começar vida nova. Nada melhor que as refrescantes águas de março, que esfriam nossa cabeça para enfrentar mais um ano de luta... É verdade que, em cidades como São Paulo (e tantas outras do nosso imenso Brasil), com problemas tão graves como os de saneamento básico, essas águas são muitas vezes sinônimo de enchente, caos e até mesmo de morte. Mas isso não é culpa da natureza: cabe à cultura (no caso, aos administradores públicos, urbanistas e engenheiros) proteger os homens.
Certamente não eram as chuvas paulistas que Tom Jobim tinha em mente quando compôs "Águas de março".
"É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um caco de vidro, é a vida, é o sol
é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
é peroba do campo, é o nó da madeira
caingá, candeia, é o Matita Pereira..."
O que temos aqui? Eu diria que um conjunto de elementos que lembram uma paisagem não urbana propriamente: pau, pedra, toco, a solidão, peroba, nó de madeira etc. São elementos de um contexto mais natural, onde quase não se sente a ação do homem. O "quase" que eu disse vai por conta dos seguintes objetos: caco de vidro, elemento que implica fabrico, tecnologia; candeia, objeto rústico para iluminação, a indicar, no entanto, que esse lugar tomado pelas águas de março não tem luz elétrica; e anzol, que, apesar de artefato humano, tem a ver com uma forma primitiva de relação com a natureza, ou seja, a pesca, favorecida decerto em tempos mais chuvosos, em que os rios ficam cheios. Índices de uma cultura mais ligada à natureza são ainda a referência a caingás, bem como pela referência ao matita pereira. Como vocês podem percerber, estamos a léguas dos centros urbanos, num espaço onde ainda vigoram lendas, personagens folclóricas, populações pré-modernas, como os índios, e onde são enfatizados os ciclos naturais, vida e morte, sol e noite:
"é um caco de vidro, é a vida, é o sol,
é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol."
A letra de Tom Jobim é basicamente descritiva, repertoriando uma série de elementos que visam construir a atmosfera desencadeada pelas chuvas num ambiente mais rural. Sendo descritiva, não conta com uma progressão dramática, um desfecho. Essa estrutura descritiva é enfatizada pela reiteração intensa do verbo "ser", um verbo que serve, entre outras coisas, para dar atributo, qualidade a algo. Mas talvez esse verbo tenha um sentido algo ambíguo aqui. A letra já se inicia sem mencionar o sujeito a que se liga o verbo.
"É pau, é pedra, é o fim do caminho", e assim até o fim, com variação dos predicativos. Imaginamos que o que é pau, o que é pedra "é" as águas de março. Ou seja, "águas de março" significa pau, pedra, peroba do campo e tudo mais. Como dissemos, trata-se de representar a atmosfera úmida de março. Chegamos quase a sentir o cheiro da madeira molhada, a imaginar o corpo se refrescando (é o fim da canseira, como diz a letra). Mas, se é assim, por que o verbo "ser" não está no plural, para concordar com "águas", no plural? Podemos cogitar alguns motivos: convenhamos que repetir "são" a todo o instante ficaria um pouco exaustivo. Seria são pra lá, são pra cá, são acolá. A forma "é" está muito mais na ponta da língua, o que dá bem mais agilidade à música; além disso, o sujeito, "águas de março", é mais lógico do que sintático. Ele figura no título da canção, mas não na letra, pelo menos até quase o fim. "Águas de março" é o pressuposto do texto, mas não está estruturado nele sintaticamente. O título serve aqui para indicar o objeto de que se está falando. Por tudo isso, a concordância no singular é mais do que legítima. Tanto é assim que Tom Jobim, que não era bobo, coloca bonitinho o verbo "ser" no plural quando a expressão "águas de março" vem, no finzinho da canção, literalmente reproduzida no corpo do texto, passando de idéia de fundo a elemento de estrutura sintática, ou seja, passando de sujeito lógico a sujeito sintático:
"são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração. "
A concordância no plural tem o efeito de um resumo: todos os elementos relacionados nesse texto são, formam as águas de março. Note-se, no entanto, que o verbo no singular retorna: "é a promessa de vida". É como se se quisesse dar mais peso agora à "promessa de vida" do que às águas de março. O que importa mais agora é a promessa de vida. Mas você pode perguntar: isso também não se aplica ao resto da letra? Não poderíamos dizer que a letra quis mais enfatizar os elementos, os aspectos vitais ligados às águas de março, daí ter usado o verbo no singular? É possível. Há em toda a composição de Tom Jobim um apego a elementos variados, há mesmo uma espécie de desejo de fazer o inventário de um mundo já meio fantástico para nós, homens urbanos, para quem saci e índio têm algo em comum: a inexistência, o serem coisas do passado. Esse estilo de inventário acaba como que dando relevo ao detalhe, mas sem prejuízo de dar conta do conjunto. Tudo isso é banhado pelas águas de março, que fecham o verão. Notemos ainda que os elementos ligados à ação do homem vão aumentando ao longo da canção:
"É um estrepe, é um prego,
é uma conta, é um conto
...
é o carro enguiçado, é a lama, é a lama."
Ora, a palavra "projeto" é bastante ligada ao plano da cultura. A natureza é o lugar do espontâneo, do acaso, que são o oposto do projeto, do cálculo. Já estamos num território não tão primitivo, o que é marcado pelo "carro enguiçado" na lama. Trata-se de um mundo entre a natureza e a cultura. Natural o bastante para que não tenha calçamento e fazer veículos atolarem e culturalmente modificado com a presença de carros e casas. É um mundo intermediário, de lama e de projeto, e onde a chuva cai como uma bênção. O projeto, no entanto, respeita o ciclo natural: só é possível começar de fato a construção da casa ("é o tijolo chegando") quando cessarem as chuvas. Com a terra seca e o outono, então uma nova vida pode lançar as bases.
http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/poesias/tomjobim_aguasdemarco.htm