quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dicas de Português - Sérgio Nogueira

Temas polêmicos



1. A dona-de-casa ou a dona de casa?
Dona de casa sofre até na hora de ser escrita. É com hífen ou não?
Segundo o dicionário Aurélio, devíamos usar hifens (ou hífenes, como preferem alguns): dona-de-casa. O dicionário Houaiss nos ensinava que devíamos escrever sem hífen: dona de casa.
E agora, que fazer?

De acordo com as regras ortográficas anteriores ao novo acordo, devíamos ligar por hífen “os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto perfeita unidade de sentido”.

Dentro desse princípio, devíamos usar o hífen nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação própria, não conservam, considerados isoladamente, a sua significação, mas o conjunto constitui uma unidade semântica.

Para ficar mais claro, é interessante observarmos um exemplo inquestionável: copo-de-leite e copo de leite.
Em copo de leite, sem hífen, cada elemento mantém a sua significação: copo é copo e leite é leite; em copo-de-leite, com hifens, temos um conjunto com uma nova unidade de sentido: copo-de-leite é uma planta.
A dúvida quanto à dona de casa era se o conjunto forma uma unidade de sentido ou se cada elemento conserva isoladamente sua significação.

Esse tipo de dúvida acabou com o novo acordo ortográfico. A partir de agora, os compostos com elemento de conexão só receberão hifens se for palavra ligada à botânica ou à zoologia: copo-de-leite, banana-da-terra, joão-de-barro, galinha-d’Angola…

Isso significa que os compostos com elementos de conexão que não são nomes de animais ou plantas devem ser grafados sem hífen: pé de moleque, pé de cabra, general de divisão, pão de ló, fim de semana, disse me disse, dia a dia, passo a passo…

Assim sendo, agora não há mais dúvida: DONA DE CASA deve ser escrita sem hifens.


2. Não confunda gênero com sexo

Cadeira é um substantivo feminino e banco é masculino. Por mais que você examine uma cadeira e um banco, não encontrará nenhum sinal do sexo feminino na cadeira nem do sexo masculino no banco. Bancos e cadeiras não mantêm relações sexuais para fazer “banquinhos”!!!

Cadeira não é um substantivo feminino porque termina em “a”. Existem várias palavras terminadas em “a” que são masculinas: o problema, receber um tapa, dar dois telefonemas, duzentos gramas de presunto…
A distinção do gênero nos substantivos não tem fundamentos racionais. Quem determina o gênero é a tradição fixada pelo uso. A comparação com outras línguas, mesmo de origem latina, comprova a inconsistência do gênero gramatical: a viagem / el viaje (espanhol); o sangue / la sangre (espanhol), la sang (francês)…

Nossos leitores têm algumas dúvidas:
1a) Personagem é masculino ou feminino?
2a) Qual é o feminino de poeta: a poetisa ou a poeta?

Chamamos de SOBRECOMUNS os nomes de um só gênero gramatical que se aplicam, indistintamente, a homens e a mulheres: o cônjuge, o indivíduo, o sósia, a criança, a pessoa, a vítima…

São chamados de COMUNS DE DOIS os substantivos que têm uma só forma para os dois sexos. A distinção é feita pela anteposição de “o”, para o masculino, e “a”, para o feminino: o/a artista, o/a doente, o/a mártir, o/a jovem…

Na sua origem, PERSONAGEM era um substantivo sobrecomum do gênero feminino, ou seja, “a personagem” poderia ser usada tanto para a mulher quanto para o homem. Hoje em dia, porém, PERSONAGEM tornou-se um substantivo comum de dois: a personagem, para mulheres, e o personagem, para homens. O dicionário Houaiss e o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras consideram PERSONAGEM substantivo de dois gêneros, ou seja, o/a personagem.


Quanto ao feminino de POETA, temos uma bela polêmica. Segundo a tradição e os nossos principais dicionários, o feminino de poeta é POETISA. Recentemente, no meio artístico, tornou-se moda distinguir A POETISA (=pessoa do sexo feminino que faz poesia) de A POETA (=mulher que faz poesia de reconhecida qualidade literária). Trata-se de um juízo de valor que ainda não tem o respaldo da maioria dos estudiosos e de nossos principais dicionários. Se essa moda “vai pegar”, só o tempo dirá.

Segundo o mestre e acadêmico Evanildo Bechara:

a)    são masculinos: o…clã, champanha, dó, formicida, grama (unidade de massa/peso), milhar, pijama, sósia, telefonema…

b)    são femininos: a…aguardente, alface, análise, bacanal, cal, cólera, dinamite, libido, síndrome, faringe…

c)    são indiferentemente masculinos ou femininos: o ou a…avestruz, crisma, diabete, gambá, hélice, ordenança, personagem, sabiá, sentinela, soprano, suéter, tapa, trama…

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