quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Amor que nem sabe...

14Poema de Adélia Prado:

Pranto para comover Jonathan

Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentosdo que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançadodo que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.


O amor é um tema muitíssimo explorado na literatura. Sabe por quê? Porque amor é vida!
Aliás, esta afirmação vem explícita como um argumento, no poema 'Não te amo', do português Almeida Garrett – considerado por teóricos da literatura como o grande introdutor do romantismo em Portugal.


Mas vamos ao poema da mineira Adélia Prado. Neste poema ela fala de amor em grau comparativo de superioridade. Seu amor é mais... Seu amor é maior... Os outros termos de comparação são grandezas naturais também. Sim, porque o amor é natural, embora as estruturas desumanizantes de nosso sistema social tenham se encarregado de escamotear a naturalidade do amor.

Os diamantes, o mar, um campo de flores, a morte, a onda batendo no rochedo e o próprio rochedo são os termos simbólicos de comparação. Para cada um deles, a autora atribui características (indestrutíveis, imenso, belo, triste, desesperançado e tenaz).

Quem já viveu um amor sabe que nenhuma dessas características pode ser refutada das experiências de um amante.
Lembro-me do amor eternizado pela imagem final do poema Noivado no Sepulcro, de Soares de Passos: '
Porém mais tarde, quando foi volvido / Das sepulturas o gelado pó, / Dois esqueletos, um ao outro unido, / Foram achados num sepulcro só'. Nem a morte foi capaz de destruir aquele amor!

Lembro-me do amor resignado de Mariana por Simão Botelho, em Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco. Será que o mar consegue ser maior do que o atirar-se ao mar para morrer junto ao corpo do amado? Lembro-me daqueles amores que jamais se concretizam sem, contudo, deixarem de existir, porque o amante sabe que a felicidade do amado depende da distância entre os dois. Pode um campo de flores ser mais belo do que a renúncia a beijos, abraços, presentes, presenças, enfim, a tudo o que ornamenta o amor?

Lembro-me do pranto de Garcia ante o cadáver de Maria Luísa em A Causa Secreta, de Machado de Assis. Há algo mais triste do que ser amada depois de morta, enquanto seu marido deleita-se mais com o sofrimento de seu amante do que sofre com sua morte?

Lembro-me do desespero de Hilda Furacão à espera da resposta de seu religioso, diante do ultimato 'ou eu ou a religião'.

Isso para não mencionar aqui, em tom confessional, meu próprio desespero nas inúmeras vezes em que eu mesmo estive como a onda batendo no rochedo, vítima de um amor obstinado como o de Bocage, que fantasiava uma disputa entre a morte e o amor, para ver qual dos dois lhe arrebataria a vida.

Por fim, olhe para dentro de si mesmo, para sua história, e provavelmente encontrará nem que seja um único momento em que você foi tenaz como uma pedra, pegajoso e obstinado em seu amor teimoso de quem ama e nem sabe mais o que ama...

Texto: Helder Bentes / Pesquisa de imagens: Celso M. Carvalho

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