quinta-feira, 12 de novembro de 2009

GIL SERIQUE

Entrevista "roubada" do blog do Jeso.
http://www.jesocarneiro.com/ele-conhece-os-gringos.html#comments Há 20 anos, o santareno Gil Serique (foto), 45 anos, trabalha como guia turístico. A longa quilometragem o coloca como um dos mais experientes neste setor na Amazônia. Ele já trabalhou no Peru, Bahia, Amazonas, entre outros lugares pelo mundo afora. É autor de um catálogo de aves, escrito em 7 línguas, que faz sucesso entre os turistas que aqui chegam. Serique é, como bem definiu o norte-americano radicado em Santarém Steven Alexander, o “anfitrião da Amazônia”.

No final de semana, um velho personagem da paisagem santarena, que Gil conhece muito bem, voltou a dá as caras por aqui: o turista. O transatlântico Silver Cloud foi que abriu a temporada e trouxe a primeira leva deles. E Gil estava lá, pela enésima vez, para recebê-los.

Para o leitor conhecer um pouco mais as manhas e manias dos “gringos” que desembarcam em terras santarenas, o blog resolveu entrevistar o guia, brother e anfitrião da Amazônia.

Qual o perfil do turista que costuma vir a Santarém nessas temporadas?
Gil Serique – A maioria é formada por casais aposentados: professores e profissionais liberais. Grande parte oriunda da America do Norte, com um número reduzido de canadenses e uma turma representativa da Europa Ocidental, especialmente Inglaterra e Alemanha.

O que eles querem ver aqui?
Sem dúvida alguma, biodiversidade, especialmente mamíferos e aves, enfim, a nossa fauna. Uma caminhada numa mata virgem é bastante apreciada. A culinária só pra fotografia, embora peixes, sorvetes e sucos de frutas nativas sejam largamente apreciados no próprio navio. As nossas praias de água doce serão mais valorizadas quando eles permanecerem mais tempo aqui, o que imagino que possa acontecer no futuro.

O turista chega com informações sobre a cidade ou aqui desembarca “zerado” sobre a história, atrações turísticas etc. da cidade?
Pra maioria dos turistas, conhecer a Amazônia é um sonho que eles carregam desde o berço. Todos lêem e assistem a documentários sobre o tema, e os navios que já possuem uma biblioteca relativamente rica sobre a região. Duas palestras diárias são dadas a bordo. Sem falar que muito da história escrita sobre a Amazônia tem a ver com o país deles. Eles chegam bem informados sobre os mais diversos temas e realidade. Os tours [roteiros de visitas] são vendidos nos navios. Os tours privados são reservados pela internet e atualmente representam uma fatia bem fina do bolo.

Ele, o turista, gasta os seus dólares em quê?
Por causa da massificação dos tours – 35 turistas por ônibus ou barco em média – o valor médio por tour é de 30 dólares. O grosso acaba merecidamente no bolso dos agentes. Raramente um turista gastaria mais de 10 dólares, incluindo compra de artesanato e gorjeta. Imagino que em Manaus as lojas especializadas em arte em pedras estejam bem na foto. Não devemos esquecer, nem tampouco negligenciar, a tripulação, cujo gasto se limita em grande parte a “cigarrets & alcohol”.

O turista gastaria muito mais se Santarém tivesse a oferecer o quê, por exemplo?
Mais biodiversidade e reservas ambientais, o que criaria mais opção de tours e uma permanência mais longa; mão de obra especializada, capacitando guias a organizarem seus próprios tours (no caso um tour privado, para oito pessoas alcança cerca de 120 dólares por pessoa) e pra tripulação muita festa.

O que achas que poder público podia oferecer a esses turistas, sem que tivesse que fazer grandes investimentos, a fim de potencializar ainda mais esse setor?
Gosto da idéia de preparar a cidade para quem nela vive e assim estaria pronto apra indústria de navios. É também fundamental a proteção dos recursos naturais, especialmente a várzea, onde a possibilidade de observação de vertebrados, na maioria aves.

E Alter do Chão? Por que praia deixou de fazer parte do roteiro turístico desses navios?
Acho que é uma prova que os turista estão mais interessados em observação de animais, área que a várzea é imbatível. Uma outra razão foi a lastimável perda do Centro para a Preservação da Ciência, Arte, Cultura Indígena que tinha lá na vila.

COMENTÁRIOS:

Tiberio Alloggio comentou:
O GIL, apesar de não ter uma estrutura formal, e ser considerado uma figura “excêntrica” é o maior operador turístico de Santarém.Dá de dez a qualquer um que se acha empresário do ramo e/ou turismólogos de faculdades particulares.Ele foi capaz de dar brilho e nova projeção à Maratona da Floresta (Flona do Tapajós) que antes dele não passava de um evento pra lá de desclassificado.
Santarém tem “ene” agencias de turismo, mas podem acreditar que quem mais movimenta e mais fatura com essa atividade é o próprio Gil.Porque é competente, porque conhece e porque sabe como se faz.
Se o setor público que se ocupa de turismo fosse menos formal e o ouvisse sobre o tema, Santarém teria muito a ganhar.
Tiberio Alloggio
11/11/2009

Cau comentou:
Esse é o Cabo Gil que todo mundo, aliás o mundo, conhece.O Rio Amazonas não tem praias, no entanto, Manaus é a grande pedida para os gringos. Biodiversidade é o caminho das pedras. O crucifixo de Von Martius da Igreja de Nossa Senhora da Conceição também é referência, mas mantendo a Igreja FECHADA é impossível vê-lo.Outra referência é a Cerâmica Tapajoara, que há cerca de seis anos atrás foi motivo de exposição do British Museum e ninguém aqui sabia que estava ocorrendo. Abraço Cabo e parabens pela aula dada para os “meninos”. Valeu!
11/11/2009

Alessandra comentou:
parabéns pela entrevista. Gostei mesmo da valorização do profissional e do conhecimento dele não só sobre os turistas, mas também sobre a região. Eu só conhecia aquele outro Gil que faz comentários “engraçadinhos” por aqui. Bom trabalho.
11/11/2009

Emanuel Júlio comentou:
Elucidativa a entrevista.
11/11/2009

Eu mesmo comentou:
Oi Jeso,
Só pra esclarecer:O M/S Silver Cloud veio com somente 150 passageiros e sua recepção tava a cargo da Santarem Tur, que hoje tem nosso amigo Denis Maia como cappo. Imagino o gasto medio de U$100 por casal em tours etc. e não u$10.
Os transatlanticos da Cruise lines atracam umas dez vezes e trazem uma media de 1000 passageiros, o que ocupa todos os guias locais e ate mesmo uns colegas de Manaus.
Muito do pouco que sei aprendi com Steven Alexander e meu irmao Flavio Serique, odeio ser modesto mas justiça seja feita, tenho certeza divido essa postura com meus outros colegas.
Gil Serique
11/11/2009

Nazareno Lima comentou:
Oportuna a abordagem! É bom lembrar que o Gil se reportou somente aos Turistas desses navios, pelo que se percebe deixam muito pouco em termos de receita.Não podemos esquecer os turistas anônimos, os regionais e os nacionais que nos visitam motivados pelas já conhecidas atrações, mas também o chamado turista de negócios, este último responsável pelo aquecimento de um importante segmento do setor, o de hospedagem.Como o próprio lembrou, preparar a cidade para quem vive nela é fundamental: cidadãos mal satisfeitos com a cidade que habitam e que não tem informações, podem comprometer todo um trabalho de divulgação e investimento em torno e a administração municipal está contribuindo bastante para isso.Só para completar, alem da perda lamentável do Centro Cultural Indígena, Alter-do-chão, perdeu o encanto.
Nazareno Lima
11/11/2009

Dudu Dourado comentou:
A idéia de entrevistas no site é muito boa Jeso, espero que coloques mais.
11/11/2009

Cezar Savino comentou:
E a entrevista para o Programa do Jô?
11/11/2009

Jeso Carneiro comentou:
Pois é, Dudu, também gosto muito. Ainda mais quando as respostas dos entrevistados são inteligentes e objetivas como as do Gil Serique.
11/11/2009

Antenor Pereira Giovannini comentou:
Caro Jeso
De extremo valor as palavras do nobre Gil. Objetivas, e diretas mostrando de quem sabe o quanto poderia ser feito pelo turismo.Tal qual outros setores não se aproveita de quem realmente sabe a chance de se extrair benefícios para região.Parabéns pela entrevista e principalmente parabéns ao entrevistado e todo seu conhecimento.Sr Dudu Dourado tem razão Jeso, certamente esas entrevistas são de grande valia .
Forte abraço a ambos
Antenor Pereira Giovannini
11/11/2009

Gil Serique comentou:
Pode crer gente!Participar dessa industria é muito legal. Adiciono a receita($) conhecer pessoas muito legais, de ferias e com relativa grana pra investir nas excursoes e nao ficar entre 4 paredes.
Turismo cria um network incrivel e ainda possibilidades de participar de projetos como os livros do Joe Jackson, do Alan Dean Foster… O turismo me levou a conhecer outros paises e especialmente o meu proprio juntamente com sua fauna e flora… Vinte e tres onças em 15 dias no pantanal e ter seus clientes deletando 50 fotos de bichos raros por dia é muito legal…e por ai vai.
Ser guia no seu proprio país, na Amazonia e ainda na sua propria cidade é o que de melhor ha, no meu pensar. Espero que minha experiencia leve mais pessoas a participarem dessa industria.
Qto ao programa do Jo tentarei ir la em Abril, depois que eu terminar uma excursao pra observar psitacideos raros da Bahia, Piaui e ararajubas aqui, e assim criar a possibilidade de conhecer o Loro Jose da Ana Maria Braga pra melhor ainda promover nossa regiao e ajudar na solidificação desta industria por aqui.
ciao ai gente, grazie!
11/11/2009

Anônimo comentou:
Com a mesma paciencia,arte e desprendimento que um pescador do Surucua tece sua rede para pescar, o Gil Serique desenvolveu sua propria e astuta tecnologica cabocla de “pescar” oportunidades,tornando-se o nosso mais importante Hostess do turismo da regiao meridional da Amazonia brasileira.
Y’re a self made man,dude.Beraha sahem !CHESED & SHALONR.Sampaio M.Shemsi e ND M.Trostprugg Von Weiss.
11/11/2009

Ney Mota comentou:
Cabo Gil, mano, o que o tempo e o sol da amazônia não faz… (rs rs)
Conheço o Gil desde menino quando ele morava (ou ainda mora) na Rui Barbosa. Irmão de Rômulo, Eduardo, Flávio… todos amigos de meus irmãos.
Há muito que o Gil labuta nessa área, com grande maestria e paixão. É bonito ver ele falando sobre esse assunto, me comove.
Ele é aquela conhecida “gota d’água no oceano” que todos nós da região precisamos ter e ser também um pouco.
Que tal embarcarmos nessa de explorar as nossas belezas somente com fotografias, com o odor da mata que guardamos em nosso coração, com o delírio de apreciar os animais exóticos que temos… sem ser preciso degradar absolutamente nada.
Aquela fotografia acima, da balsa cheia de toras de madeira em chamas, muito me entristece. O Gil é exatamente o oposto disso.
Valo lá mano velho, você tem muito a fazer ainda!

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