sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras
fatigadas de informar.


Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.

Entendo bem o sotaque das águas.

Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos,
como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.

Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios
.
.Manoel de Barros



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