domingo, 1 de junho de 2008

O testamento da KENNY (minha cadelinha)

Eu, kenny Maria ( Nega para os mais íntimos), sentindo o peso dos anos e das enfermidades e sabendo também dos perigos que a vida oferece, venho por meio deste gravar o meu último desejo e testamento na lembrança da minha dona. Ela não saberá de sua existência até o dia de minha morte. Só então, quando me recordar, tomará conhecimento deste testamento que lhe peço registrar em minha memória.
Quase nada deixo de bens materiais. Os cães são mais sábios que os homens. Eles não dão muito valor às coisas. Eles não consomem os dias acumulando propriedades. Eles não perdem o sono guardando os objetos que possuem, e adquirindo os que não possuem. Não deixo nada de valor, exceto o meu amor e minha fidelidade. Este lego a todos que me amaram. Lego a minha dona, que mais lamentará a minha perda. Lego a pessoa que redigiu este, e a quem devo quase tudo em minha vida. Lego a Tia Thayssa que tem sido tão boa comigo, ao vovô e vovó, Socorro e Vitório, que tantos gritos e carinhos me deram, deixo a cadeira de balnaço verde e vermelha. Ao Tio Melvin e a Tia Bruna peço perdão pela unha que arranquei dela. (bem, se fosse fazer a lista de todos que me amam, minha dona teria que escrever um livro). Talvez seja presunção elogiar a mim mesma quando estou perto da morte, que devolve ao pó todos os animais e vaidades. Mas em toda a minha vida fui sempre uma cadelinha de poucas amizades, mas sempre fiel a minha dona e a todos da minha família.
Peço a minha dona que se lembre de mim, mas que não chore a minha morte por muito tempo. Em vida, sempre procurei consolá-la nas horas de tristeza e aumentar sua alegria nos momentos de felicidade. É doloroso pensar que, com a minha morte, serei motivo de dor para ela. É hora de dizer adeus, é triste ter que deixá-la, mas não é triste morrer. Os cães não temem a morte como os homens. Nós aceitamos como parte da existência, não como alguma coisa terrível que destrua a vida. Quem sabe o que virá depois da morte?
Gostaria de crer em um paraíso onde a gente permanece jovem e cheio de vida. Onde a gente brinca e se diverte com milhares de cachorrinhos amorosos, lindamente pintados. Onde cada hora bem aventurada é hora de refeição. Onde, nas longas noites de inverno, há sempre cobertas (onde minha dona nunca proibiu minha presença), onde a gente se aquece nos sonhos, lembrando os velhos e bravos tempos na Terra. Acho que isto seria esperar demais para uma pobre cadelinha como eu. Mas a paz pelo menos é certa.
Faço um último e sincero pedido. Tenho ouvido várias vezes minha dona dizer: “Quando o Kenny morrer, nunca mais terei outro cachorro. Eu a amo tanto, jamais poderia amar a outro”. Eu lhe peço que, por amor a mim, tenha outro cão. Não tê-lo, seria um pobre tributo a minha memória. Gostaria de saber que, depois de mim, ela não poderia viver sem um amigo como eu. Nunca tive um espírito egoísta e limitado. É lógico que alguns cães são melhores que outros. Os poodles, como todo mundo sabe, são os melhores. Por isso sugiro que minha sucessora seja também uma poodle. Ela dificilmente será “simpática e autoritária” quanto eu fui em meus bons tempos. Minha dona não deve querer o impossível. Mas estou certa de que ela fará tudo o que estiver ao seu alcance, e mesmo seus defeitos, inevitáveis, servirão para me manter vivo na memória dela.
Deixo para ela minha coleira de reggae, comprada especialmente para mim. Minha sucessora nunca saberá usá-la com a minha imponência, quando eu passeava por aí, ou mesmo sentada na minha cadeira. Mas estou certa de que se esforçará, ao máximo, para não parecer uma jeca desajeitado.
Uma última palavra de adeus, minha querida dona. Quando visitar meu túmulo ou olhar minhas cinzas, repita com tristeza, mas também com muita alegria em seu coração, como lembrança, a minha longa e feliz existência junto a você: “Aqui jaz quem me amou e a quem amei”. Por mais profundo que seja o meu sono, eu escutarei você, e nem o poder da morte poderá impedir o meu espírito de virar com a barriga para cima esperando aquele carinho e de abanar o rabo (toco) em sinal de gratidão.

Te amo, Brennda.

Amo todos vocês, família.

Sempre,

Kenny Maria.a.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Brenda!
Chorei muito ao ler esse texto. Pelo visto vc gostava tanto da sua Kenny qto gosto da minha poodle, de 9 anos. Eu sofri junto com vc, qdo li. Fiquei profundamente comovida. Força e fé. Arrume outro cachorrinho pra "oferecer" todo essa generosidade e afeto que vc possui. Gostei bastante do seu blog. Vou visitá-la sempre. bjos.