sexta-feira, 11 de julho de 2008

Abra suas asas

Acolher uma criança não é nenhum ato de heroísmo. Adotar é um gesto humano, que exige dedicação e oferece, em troca, um sentido para a vida.

Dar um sentido para a vida. Amar e ser amado. Deixar uma marca de sua passagem pelo mundo. Ver uma parte de si se propagar pelo tempo.


Enfim, vencer a sensação de finitude. É para isso que as pessoas têm filhos, e é por isso, também, que se adota uma criança. Essa constatação pode espantar quem vê os pais adotivos como uma espécie de herói, gente caridosa que decidiu abrir as portas da própria casa para uma criança abandonada.


Adoção não tem nada a ver com caridade, e pais adotivos não podem ser vistos como pessoas especiais. São pais como quaisquer outros, que cometem os mesmos erros e pecam pelas mesmas ansiedades.

É claro que, no momento da adoção, existe uma boa dose de desejo de ajudar, um sentimento de amor ao próximo. Mas altruísmo nenhum dura a vida inteira, que é o tempo de uma relação de pai e filho, afinal de contas. A adoção, é verdade, não deixa de ser um ato de solidariedade, mas, ao adotar, os pais também querem atender a uma necessidade própria, preencher um vazio interior, seja ele qual for.


Se estão se dando a oportunidade de ajudar um ser humano, estão, antes de mais nada, ajudando a si próprios. Se por um lado quem adota devolve à criança o direito de ter um pai ou uma mãe, ela lhes oferece a preciosa função de educar, de dar e receber amor. Permite orientar e aprender com o desenvolvimento da criança, uma experiência que pode ser muito construtiva e exige um bocado de dedicação.

Porque, como diz Fernando Freire, psicólogo da Associação Brasileira Terra dos Homens, que trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco, a adoção é antes de tudo uma atitude frente à vida e seus desafios, uma atitude de quem sabe que o amor é uma das poucas coisas que, quanto mais partilhado, mais cresce.


Nem mais, nem menos. Um filho adotivo não dará aos pais nem receberá deles amor maior ou menor que um filho biológico.


A mulher é predisposta a gerar e a cuidar do filho, mas, em uma gestação não planejada, por exemplo, ela também tem que decidir cuidar da criança e amá-la.


Também é uma escolha, assim como acontece na adoção. A paternidade e a maternidade podem ser indesejadas, mas não a paternagem ou a maternagem, ou seja, o exercício do papel de pai ou de mãe. Não se ama mais um filho porque ele é biológico ou adotivo. Ama-se porque o pai ou a mãe tem capacidade de amar, independentemente de o filho ter sido gerado pelo casal ou não.

Quer dizer, não é porque uma mulher teve um filho que vai amá-lo.Tem de ter disposição e capacidade para fazê-lo.Essa questão de instinto materno nunca foi comprovada cientificamente. Como em qualquer relação, o amor é construído.


O conceito de paternidade não deixa de ter um quê cultural.Não são poucas as tribos indígenas em que as crianças pertencem ao grupo, não aos pais. Em certos povos africanos, jovens são criados por tios, primos, avós, fazendo estes o papel de pais. E, se a preocupação é com o caráter antinatural da adoção, é bom saber que ela existe em outras espécies animais, como os golfinhos, conhecidos por sua inteligência e bom nível de comunicação. Entre eles, qualquer filhote é do grupo, não dos pais, e toda fêmea pode amamentá-lo.

Se você achou estranho ler, lá no primeiro parágrafo, que pais adotivos também querem ver uma parte de si se propagar pelo tempo, saiba que isso acontece, sim.


Não são os genes que se propagarão, é claro, mas a cultura familiar e pessoal não é herança pouca.


Amar faz bem à saúde.


E aí está, na verdade, a chave da questão.

Quem adota,portanto,pode se sentir assim, o que não deixa de gerar certas dúvidas. A adoção tem como base um desejo primordial do ser humano, que é amar e ser amado. Só podemos estar bem se formos capazes de cuidar uns dos outros, de amar uns aos outros.

Mas, na verdade o ato de amar é movido por um lampejo egocêntrico. Jamais alguém faz algo totalmente para os outros, todas as ações são autodirigidas, todo serviço é autoserviço, todo amor é amor-próprio. Exagero? Talvez, mas grupos como o Cecif levam isso em consideração e cuidam para que essa busca incessante pelo preenchimento de um vazio interior não atrapalhe o processo. Foco na criança.


Quem adota deve levar em conta não só suas próprias aspirações, mas também as da criança que é adotada. A adoção não pode se transformar simplesmente em um tapa-buraco existencial. Ela também deve ser voltada para a criança, com quem assumimos a responsabilidade de cuidar e educar.Devemos criá-la em um meio seguro, para que ela cresça numa família, e não nos preocupar apenas em atender à satisfação de uma necessidade pessoal, encobrindo uma dor que deveria ser por nós mesmos trabalhada, para o nosso próprio crescimento.

A adoção é uma troca, uma relação construída no dia-a-dia, em que você tem que estar preparado para o melhor e para o pior. Para adotar, não basta ter o desejo, a vontade. Tem que ter muita disposição. Até porque, no caminho, os pais costumam ter muitas surpresas.Assim como quem tem filhos biológicos, não conhecemos todos os ingredientes, entramos numa região desconhecida e temos de ter disposição para enfrentar os obstáculos que certamente aparecerão.


O grande diferencial de uma adoção tardia é o cuidado que precisamos ter ao lidar com o histórico anterior do filho. Ou seja, os problemas enfrentados pela criança nos primeiros anos de vida pré-adoção. Há vítimas de maus-tratos, violência, atraso escolar, dificuldade de confiar nas pessoas, baixa auto-estima, entre outros. Além de muito carinho, a ajuda de profissionais, como psicólogos, fonoaudiólogos e educadores, dependendo do caso, pode ser fundamental.

É claro que, no momento da adoção, existe uma boa dose de desejo de ajudar, um sentimento de amor ao próximo. Mas altruísmo nenhum dura a vida inteira, que é o tempo de uma relação de pai e filho, afinal de contas. A adoção, é verdade, não deixa de ser um ato de solidariedade, mas, ao adotar, os pais também querem atender a uma necessidade própria, preencher um vazio interior, seja ele qual for. Se estão se dando a oportunidade de ajudar um ser humano, estão, antes de mais nada, ajudando a si próprios. Se por um lado quem adota devolve à criança o direito de ter um pai ou uma mãe, ela lhes oferece a preciosa função de educar, de dar e receber amor. Permite orientar e aprender com o desenvolvimento da criança, uma experiência que pode ser muito construtiva e exige um bocado de dedicação.
Porque, como diz Fernando Freire, psicólogo da Associação Brasileira Terra dos Homens, que trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco, a adoção é antes de tudo uma atitude frente à vida e seus desafios, uma atitude de quem sabe que o amor é uma das poucas coisas que, quanto mais partilhado, mais cresce.


Um filho adotivo não dará aos pais nem receberá deles amor maior ou menor que um filho biológico.A mulher é predisposta a gerar e a cuidar do filho, mas, em uma gestação não planejada, por exemplo, ela também tem que decidir cuidar da criança e amála.

Quer dizer, não é porque uma mulher teve um filho que vai amá-lo.Tem de ter disposição e capacidade para fazê-lo.Essa questão de instinto materno nunca foi comprovada cientificamente. Como em qualquer relação, o amor é construído, diz Gabriela.

O conceito de paternidade não deixa de ter um quê cultural.Não são poucas as tribos indígenas em que as crianças pertencem ao grupo, não aos pais. Em certos povos africanos, jovens são criados por tios, primos, avós, fazendo estes o papel de pais. E, se a preocupação é com o caráter antinatural da adoção, é bom saber que ela existe em outras espécies animais, como os golfinhos, conhecidos por sua inteligência e bom nível de comunicação. Entre eles, qualquer filhote é do grupo, não dos pais, e toda fêmea pode amamentá-lo.
Se você achou estranho ler, lá no primeiro parágrafo, que pais adotivos também querem ver uma parte de si se propagar pelo tempo, saiba que isso acontece, sim. Não são os genes que se propagarão, é claro, mas a cultura familiar e pessoal não é herança pouca.









Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Brennda!

Meu nome é Vania, moro em Santarém, e já é a 3ª vez que visito seu Blog. Temos duas coisas em comum: a paixão por nossas cachorrinhas,(eu tenho uma poodle)bem como o sentimento eterno que vc terá pela sua; e agora sobre o tema adoção. Eu tenho vontade de, assim que minhas condições financeiras permitirem, adotar uma menina, e por isso gostaria de compartilhar como tá sendo esse experiência pra vcs (vc e sua filha). Saber se é muito complicado, se exige-se muito do adotante etc. Meu contato é: vanlimfer@hotmail.com.

Abraço e tudo de bom a vcs duas!